A páginas tantas, uma das personagens deste romance extraordinário confessa:
«Percebi que muitas coisas se desmoronaram e que fiquei cheio de incertezas no meio dessas ruínas.»
E o desabafo sintetiza, de certo modo, a grande inquietação do homem moderno: não sabe no que acreditar; deixou de crer e ainda não crê. à boa maneira dos grandes trágicos, Carlo Coccioli situa os seus heróis na fronteira muda do desconhecido: nada depende deles e tudo talvez não passe d eum monstruoso engano.
De um monstruoso jogo. Jogo desesperado de amor, jogo desesperado de morte. E não é por acaso que o autor recorre para epígrafe, aos versos de António Machado, que dizem: «Auctores la escena acaba/ con un dogma de teatro:/ En el principio ela la máscara.» A máscara, a aparência: o único refúgio para o homem alanceado pela dúvida e nostalgia de uma felicidade inatingida.
Carlos Cocciolo - um dos maiores romancistas europeus - abre, no entanto, no coração da dolorosa angústia contemporânea, uma pequena janela de esperança.